Esta fase que estou a passar com a Mariana fez-me recuar uns trinta anos...
Eu devia ter uns 4 ou 5 anos, porque na altura moravamos na Cuca, nos arredores de Luanda!
Era uma vivenda de R/c e 1º andar. O nosso quarto ficava no principio do corredor do piso de cima, a meio deste estava a porta do quarto da tia Santa, mais ao lado, a porta do quarto de banho e ao fundo a porta do quarto da mãe, e do pai também, claro!
Eu tinha medo do escuro, mas como os filhos da minha mãe não podiam ter medo, nem sequer monstrar alguma fraqueza, eu nunca disse a ninguem e arranjei uma forma de não me encontrar com o escuro!
Ora bem, para mim, o escuro era uma coisa rija e muito escura que eu via mesmo é minha frente e essa coisa escura tambem me via.
Quando acordava á noite para ir fazer xi-xi, serrava os olhos e gatinhava pelo chão, paralelamente ao roda pé que me conduzia até á porta do quarto de banho. Depois, como se fosse uma cobra, rastejava pela parede até ficar de bicos de pés para tocar no interroptor e acender a luz! Lembro-me que o interruptor ficava lá muiiito em cima!
Finalmente abria os olhos!
Pensava eu que, de olhos fechados não nos viamos um ao outro, e como a existencia dele era “ali no meio”, ficando por cima de mim, ou eu debaixo dele, nunca me conseguiria apanhar!
Hoje, trintas e não sei quantos anos depois pergunto-me:
porquê que em adultos não arranjamos soluções simples para os nossos medos?
Acho que hoje vou sair daqui de gatas...
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# publicado por
Cristina em
1/09/2004 11:49:00 da manhã