Um destes dias (já foi há muito tempo, mas pronto!) cheguei a casa com uma daquelas telhas!
O dia não me tinha corrido lá muito bem, os meus projectos começavam a ir por água abaixo, e mais grave, eu não tinha qualquer ideia do que iria fazer para o jantar.
Só me apetecia esconder debaixo do edredon da minha cama...
O meu animal preferido, toda a gente sabe, é o Hipopotamo, mas a maior parte das vezes comporto-me como uma Avestruz! Posso colocar as coisas assim: gosto de hipopotamos com almas de avestruzes.
Sou boa a saltar de assunto, pois sou?
(a propósito, há um senhor que diz que eu sou (de signo) um leãozinho de peluche, que de Leão não tenho nada – na volta tem razão, pq esqueceram-se da Avestruz no circulo do zoodiaco! Com ascendente no Hipopotamo ;o)
Continuando o dia da telha... Como não posso esconder-me de nada (não tenho tempo!) e muito menos posso andar por aí de gatas fugindo dos meus medos, resolvi trocar as minhas voltas rotineiras em casa.
Em vez de entrar direitinha para o meu quarto para me descalçar e despir e seguir para a cozinha, fui sentar-me no chão da sala a ver o que as garotas estavam a pintar em cima do baú.
Peguei numa tesoura e comecei a fazer umas bonecas de papel, com tótiços e tudo!
- Uauuu, tão giro mãe! Onde aprendeste a fazer isso?
- Quando eu tinha a vossa idade fazia montes de bonecas destas, com roupas de todos os tamanhos e de todas as cores...
E lá começamos as três a dar asas á nossa imaginação e a fazer aquelas bonecas que eu fazia para mim, para a minha irmã e para o meu irmão da mesa (lembraste?)...
Depois contei-lhes que faziamos casinhas para elas, com os livros do meu pai!
Cada livro era uma assoalhada da casa; tiravamos as tampas da pasta de dentes para fazer mesinhas; aproveitavamos a parte de dentro das caixas de fosforos para fazer as camas (curtavamos os lados maiores, viravamos para fora de forma a que a cama ficasse com pernas e cabeceira) e depois das casas estarem impecavelmente mobiladas com os mais diversos materiais, faziamos as estradas com molas (esta era a tarefa do mano porque ele era sempre o responsavel pela Brisa da altura e além disso, morava sempre “noutra terra” – eu e a minha irmã eramos vizinhas e mandavamos o mano para o quarto da mãe = a outra terra)
As garotas ficaram encantadas com mais um episodio da história da minha vida e aprenderam a fazer bonecas de papel...
Depois de muitos papeis cortados no chão, depois de muitas canetas de filtro e lápis de cor espalhados, paramos porque tivemos mesmo que regressar á rotina:
- Vamos para a banheira, vá...
- Mas, oh mãe! Tu não tinhas brinquedos?
- Tinha... até tinha muitos! Houve um natal que a colher de pau me deu uma bicicleta e uma trotinete, mas eu queria era uma casa de bonecas igual á que havia no meu Colégio...
- E nunca tiveste?
- Não! Só a que estava no Colégio!
- Tadinha da mãe...
Fiquei a pensar naquilo do “tadinha da mãe!” durante algum tempo e cheguei a uma conclusão horrivel:
“Tadinhas” são as minhas filhas, que pertencem a uma geração criada em betão, enfiadas num 6º andar com todos os brinquedos da moda e todos feitos e prontos para começar brincadeiras pré concebidas e sem imaginação nenhuma!
Para não falar dos gamesboys e digitivos e jogos do computador, como o mais recente da Mafalda:
um jogo que ela cria as personagens de uma familia (no computador), trabalham e têm dinheiro e constroi uma casa (no computador), e pode ter filhos e tudo e tudo NO COMPUTADOR...
parece impossivel!
Pergunto-me: até que ponto a culpa é nossa?
Agora para desaluviar a seriedade da questão:
a Mariana também jogou mas a familia dela morreu queimada porque ela esqueceu-se de não sei o quê no fogão e a casa pegou fogo! A Mafalda agora não a deixa jogar...
Estão em Pé de Guerra...
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# publicado por
Cristina em
1/15/2004 04:03:00 da tarde