
É sempre assim e infelizmente não tenho melhorado com a idade.
Sempre que tenho muitas coisas para fazer, seja o que for
(desde roupa para passar, areia da gata para mudar, tosquiar a cadela e as monstras... compras... férias... trabalho ou planos...)
fico com insónias! A minha cabeça não pára. Não me dá uma noite de sono seguida!
Não tenho sossego.
Foi o que aconteceu na
passada madrugada de sábado para domingo. Com a agravante de estar numa casa estranha.
Como não conseguia dormir, tive a triste ideia de ir buscar o pequeno livro que levei para ler nesse fim de semana. “O Outono em Pequim” de Boris Vian.
A minha
ignorância é de tal ordem que só leio o que os meus irmãos machos me dizem para ler:
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Vais amar Boris Vien – diz-me o meu irmão dótor!
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Vais adorar Paul Auster – diz-me o meu irmão anarca, hipie, semi fundamentalista e quase dótor. Mas este faz questão de ser outra especie de dótor... é mais história d’arte e isso!
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Vais amar aqueles livros todos de receitas que teimas em comprar e encher a porra da bancada da cozinha – diz-me o Márinho sempre que ouve uma dica sobre o que hei-de eu levar para ler.
Ora bem, como já li o Timbukto do Paul Auster (eu vou mais na conversa do meu irmão mais novo) e de facto amei, resolvi comprar o tão adorado Boris Vien, que por acaso no
blog do Old não me passou ao lado quando
este ilustre senhor o mencionou num dos seus fabulosos posts.
Mas, eu acho que escolhi mal o livro (o tal do Outono), ou então isto vem provar a minha fraca capacidade para amar. Literariamente falando, entenda-se!!!
Retomando a fatidica madrugada de dolorosa insónia: Como o Márinho estava a dormir no quarto e as miudas na sala e para a varanda eu não me apetecia ir por causa dos mosquitos, resolvi fechar a tampa da pia e sentar-me na casa de banho para poder acompanhar a minha leitura ao som de um cigarro.
Durante as primeiras 10 páginas o coitado do Amadis não consegue apanhar o autocarro nº 975... durante 10 págs eu estive a tentar compreender a angustia e o desespero de um personagem que quer apanhar um autocarro e simplesmente não consegue!!!
E, na descrição do atropelamento que o Amadis assiste, enquanto está na paragem do autocarro claro, e o senhor Boris Vien relata qualquer coisa como: percebeu-se que o fulano que sofreu o acidente, tinha comido
morangos.
Lembro-me de ter relido umas 3 ou 4 vezes esse paragrafo! Abanei a cabeça em vão.
Um gajo é atropelado, atenção, pelo autocarro nº 975 e a conclusão é que a ultima refeição da criatura foi morangos!
Okey! – Disse eu para mim enquanto acendia mais um cigarro. -
É melhor ires contar ovelhinhas se queres mesmo dormir com a cabeça descançada... ... a vitima comeu morangos...
A propósito, vou ali ver nos meus livros de receitas o que hei-de eu fazer para o jantar...
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# publicado por
Cristina em
6/23/2005 09:44:00 da tarde