
Começo por reformar o nº de anos que o meu avô não está presente: não são 3 mas sim 2 anos e 5 meses.
É complicado explicar isto, mas para mim, aquele senhor velhótinho e enrogadinho que estava no caixão não era o meu avô!
Já discuti isto com toda a gente, inclusivé com a minha avó e não cedo! Não era o meu avô E PONTO FINAL.
A 2ª correção é para a quantidade de anos que separa o casamento da minha avô e a data actual: não contam 65 mas sim 62.
Feitas as correcções, passo ás apresentações:
da direita para a esquerda
O meu avô – o grande culpado pela existência de um Clã, que apesar dos netos não fazerem parte integrante da familia, fazem hoje muita questão e muita honra em dar seguimento ás suas “caganças*”.
A minha mãe – com uma
bébé linda e cobiçada para outdoors de uma pápa famosa nos anos 60. A 1ª neta e a 1ª portadora desse grande apelido, eu mesmo.
A minha avó Nita – Anita de seu nome. Uma autêntica gueixa que ainda hoje me surpreende tamanha dedicação e ternura com que trata dos filhos e como tratou do marido.
Ela é a unica mulher que eu conheço que, com os seus 80 anos, antes de se deitar e depois da sua higiene meticulosamente perfeita, ainda põe os rolinhos no seu cabelo branquinho como a neve, e o creme no seu corpinho com pele de bébé! É fascinante esta senhora!
Uma colega da tia Alda – que não faço a minima quem seja.
A tia Alda – com os seus 10 ou 11 anos (cá estou eu outra vez a falhar datas!).
Como foi a ultima a ser apresentada, devia ter uma descrição maior mas, o que poderá dizer uma fã dela?
Só não te compreendo numa coisa tia! E falamos isto no sábado quando fomos ver o avô.
Depois de brincarmos com a molha que lhe fizeste na campa;
Depois de lhe pores as flores;
Depois de nos rirmos que ele estava muito mais fresquinho;
Depois de chorares com saudades;
Depois da avó dar um beijinho na campa molhada...
... depois disto tudo que me provoca
falta de ar, e por isso quero ser cremada, depois desta asfixia explicaste-me:
“Não entendo, não aceito, não acredito que se deixe de ver uma pessoa para sempre! O para sempre pesa-me! Não aceito o infinito! Se tudo é finito, esta ausência porque é que é tão infinita!!!”
Nunca me tinha apercebido do infinito que é a morte.
A primeira vez que tive contacto com esta ausência, não foi directa. Curiosamente foi o teu irmão mais velho, tia!
Foi com o tio Nelito que a morte me impressionou, mas não por ficar sem o tio.
Pesou-me e doeu-me o Luis e o Claudio ficarem sem pai e eu ter pai!
Sofri a dor do meu pai perder um irmão e eu ter os meus irmãos!
Entendes?
Não tive pena do tio partir, mas senti o desgosto de quem cá ficou.
É estranho, eu sei! É o meu lado cruel de superar as coisas e como, para mim, aquele senhor que levamos a enterrar á 2 anos e 5 meses não foi o meu avô, as minhas lágrimas não são iguais ás tuas.
Nem podiam ser, não é tia? A filha és tu! Um dia, quando partir o meu pai, provavelmente dir-te-ei precisamente o mesmo:
“Não aceito que não o posso ver mais, que seja para sempre este infinito!”
* expressão usada pela minha mãe e pela outra nora dele. A cagona-mor.
# publicado por
Cristina em
7/19/2005 09:44:00 da tarde