
VELHOS DE LISBOA - Alexandre O’Neill
"Em suma: somos os velhos,
cheios de cuspo e conselhos,
velhos que ninguém atura
a não ser a literatura
e outros velhos. (Os novos
afirmam-se por maus modos
com os velhos). Senectude
é tempo não é virtude...
Decorativos? Talvez...
Mas por dentro “era uma vez...”
(...)
Velhinhas de gargantilha
visitam o neto, a filha,
e levam bombons de creme
ou palitos “de la reine”.
(...)
Outros mijam, fazem esgares,
têm poses e vagares
bem merecidos. Nos jardins,
descansam, depois, os rins.
Aqueloutros (os coitados!)
imaginam-se poupados
pelo tempo, e às escondidas
partem p’ra novas sortidas...
(...)
Velhotes com mais olhinhos
que tu, fazem recadinhos,
pedem tabaco ao primeiro
e mostram pouco dinheiro...
E os que juntam capicuas
e fotos de mulheres nuas?
E os tontilhos, os gaiteiros,
que usam cravo e põem cheiros?
(Velhos a arrastar a asa
pago bem e vou a casa.)
E a velha que desleixa
e morre sem uma queixa?
E os que armam aos pardais
nessas hortas e quintais?
(Quem acerta co’os botões
deste velho? Venha a cidade
ajudá-lo a abotoar
que não faz nada de mais!)
Velhos, ó meus queridos velhos,
saltem-me para os joelhos:
vamos brincar? "
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Uma Nota: 20PARABÊNS, MEU IRMÃO!!!
(Imagem emprestadada aqui.)
# publicado por
Cristina em
10/28/2005 01:16:00 da manhã